Uma vez esgotada sua carga, para estar pronto para outra, o Leaf precisa ficar conectado 8 horas em uma tomada com 220 volts
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Respiro fundo, torno a apertar o botão e o hatchback com estilo moderno ainda parece desligado. Mas, calma lá: agora percebo um aviso no painel de bordo todo azul, indicando que tudo já está em pleno funcionamento e que o automóvel branco está – sim –e desde a primeira vez, pronto para uma volta.
Fora essa silenciosa impressão dos primeiros minutos, dirigir um automóvel elétrico como o Leaf não tem segredos. Como acontece em qualquer carro com motor a gasolina e câmbio automático, basta posicionar o câmbio no D (para ir em frente), N (para neutro) ou R (para marcha ré) e pisar no acelerador, sem engatar marcha nenhuma e muito menos pisar no pedal da embreagem. Pronto, lá vai o Leaf.
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Ainda quase silenciosamente o carro desliza pelo asfalto rumo à estrada nos arredores de Nashville, no Tennessee, coração dos Estados Unidos. O quase fica por conta de ruídos que antes passavam desapercebidos. O assobio do atrito dos pneus no solo e do vento sendo cortado pelo carro tornam-se logo notados, em um mundo no qual ruídos e trepidações não são mais a norma da casa. Um dos raros sons que o Leaf emite em baixa velocidade é uma espécie de alarme contínuo para advertir pedestres. O sinal de alerta funciona quando o automóvel está em velocidade de até 30 km/h e não é notado do lado de dentro do veículo. Foi uma exigência da Federação Norte-Americana dos Deficientes Visuais. Seus dirigentes ficaram preocupadíssimos com a possibilidade de um carro silencioso causar mais atropelamentos. E exigiram a engenhoca. Foi desenvolvida em conjunto com o Instituto de Oftalmologia de Detroit.
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Já na auto-estrada logo dá para perceber que um automóvel elétrico é muito mais esperto nas retomadas do que um modelo equivalente com motor a combustão. Nos carros desse tipo, o torque máximo vem logo. E ainda melhor, direto, sem escalonamento de marchas. Tem uma resposta mais rápida do que a dos carros movidos a gasolina, diesel ou etanol.
Assim, bastou um cutucão mais forte no pedal do acelerador, para que esse Nissan disparesse pela estrada com fôlego digno de carro equipado com motor V6. Dá a sensação de ser bem mais possante do que um modelo com 107 cavalos (ou 80 kilowatts, para ficar no jargão dos elétricos), como é o seu caso. OK, passados os 50 km/h, tudo se acomoda, mas ele ainda crava a aceleração de 0 a 100 km/h em uma boa marca: 11,9 segundos. Só para comparar: um Nissan Tiida com motor de 110 cavalos arranca de 0 a 100 por hora em 12,6 segundos.
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A boa impressão ao volante do Leaf foi confirmada quando chegou a hora de fazer a primeira ultrapassagem. Aperto o acelerador e novamente a resposta do motor vem mais rápida do que estou acostumado em modelos a gasolina do tamanho dele. Nesse compasso, o elétrico pode chegar a 140 km/h de velocidade máxima. E seu comportamento já se parece mais com o de um carro convencional, só que sem o barulho de pistões e virabrequins.
Com 4,45 metros de comprimento, o Leaf tem capacidade comparável à de um Sentra, o sedã da Nissan fabricado no México e vendido no Brasil. Acomoda bem cinco passageiros. Há espaço para mais 330 litros de bagagem e sai de fábrica com um bom pacote de equipamentos de série.
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O fato de o Leaf ter quase 250 quilos de baterias instaladas embaixo do assoalho causou dois benefícios: manteve um razoável espaço para bagagens no porta-malas e rebaixou o centro de gravidade do carro. É sinônimo de mais estabilidade quando chega a hora de encarar as curvas. São baterias de íon de lítio de última geração, desenvolvidas especialmente para o carro pela japonesa NEC, bastante similares às que equipam seus telefones celulares ou laptops. Com elas, a autonomia desse Nissan é de cerca de 165 quilômetros. Dependendo da utilização ou não do ar-condicionado e do modo de dirigir, este carro elétrico pode chegar até 15% mais longe. Basta deixar de lado o modo convencional, mais solto, e selecionar o câmbio para a posição Eco. Ela aumenta o tempo de resposta do motor e a eficiência do sistema de regeneração de energia dos freios.
Nesse modo mais econômico, o carro roda um pouco mais preso do que na regulagem padrão. É como se o câmbio passasse da quarta para a terceira marcha. Certamente por isso, os engenheiros da Nissan deram um jeito de incentivar esta forma mais ecológica de conduzir: pequenas árvores aparecem no painel, à medida que continuo a dirigir no modo Eco. É uma forma de ligar as preocupações ambientais a um carro que fez do dilema ecológico um de seus grandes argumentos de venda. E as barras que medem a energia estocada nas baterias demoram mais para abaixarem.
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Uma vez esgotada a carga que elas armazenam, para estar pronto para outra, o Leaf precisa ficar conectado 8 horas em uma tomada com 220 volts. Custa cerca de 6 reais. Aproximadamente sete vezes menos do que se paga para rodar a mesma distância com um carro a gasolina.
Ainda que nove entre dez pessoas no Brasil ou nos Estados Unidos mal rode uma centena de quilômetros diariamente, muita gente acha essa autonomia uma ninharia. A começar por Jerry Flint, o bem informado colunista de automóveis da revista americana Forbes, que escreveu em junho que, em função da autonomia e do tempo de recarga, “o Leaf ainda não está pronto para o mundo atual”.
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Mas isso é apenas a primeira investida dos carros elétricos no mundo dos automóveis de massa e o jogo está só começando. Além de pesquisas intensas para fabricar baterias com autonomia maior, nos Estados Unidos já começam a falar de estações de recarga capazes de colocar 80% da carga das baterias em 26 minutos com carregadores de 440 V. Nos próximos meses, algo como 250 delas serão construídas para abastecer o mercado americano. Para eles, a opção de dirigir com emissão zero já está chegando. Custa cerca de US$ 20.250, com incentivos governamentais. Traduzindo para o mercado brasileiro: R$ 34.390, o preço de um carro compacto. Confesso que desci do primeiro carro elétrico de série, com um preço que cabe no meu bolso, com uma ponta de inveja dos gringos.
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