Uma vez ocorrida a colonização gástrica, esse patógeno possui propriedades que lhe permitem por toda a vida do hospedeiro, sem que ocorra sua eliminação espontânea. Um ponto fundamental para o entendimento dessa infecção humana é determinar quando ocorre esse colonização com maior freqüência.
Estudos mostram que a aquisição de novos casos pelo microorganismo se dá principalmente durante a infância. Os fatores de risco mais importantes que facilitam a transmissão pessoa a pessoa na infância são: elevada aglomeração de pessoas no domicílio, crianças compartilhando cama com adultos ou com outras crianças mais velhas, ambientes insalubres, precariedade das condições habitacionais e peridomiciliares, ausência de instalações sanitárias básicas (água potável, coleta de lixo, esgotamento sanitário), práticas higiênicas inapropriadas e baixo nível de escolaridade dos pais.
O H. pylori coloniza apenas o estômago humano ou outro epitélio que tenha sofrido metaplasia gástrica, sendo, os seres humanos, o único reservatório e a principal fonte de transmissão desse microorganismo.
A transmissão ocorre de pessoa para pessoa, embora ainda seja desconhecido o modo de disseminação entre os seres humanos. Postula-se que as rotas de transmissão ocorram pelas vias oro-oral, oro-fecal e gastro-oral, veiculadas em meio aquático, tendo em vista que esse patógeno pode sobreviver por poucos dias em água fresca, água salgada, água destilada e água de torneira.
A infecção pela mucosa gástrica pelo H. pylori pode ser diagnosticada por meio de métodos não invasivos (testes sorológicos, testes respiratórios com ¹³C ou ¹⁴C e pesquisa de antígeno fecal) ou métodos chamados invasivos, que requerem biópsias realizadas durante o exame endoscópico.
Testes sorológicos: A sorologia para o H. pylori pode ser realizada por vários métodos, mas a técnica de ELISA é a preferida, graças a sua simplicidade e baixo custo. A detecção desses anticorpos não significa a presença de uma infecção ativa por H. pylori. Após a erradicação da bactéria, os indivíduos podem manter os anticorpos anti-H.pylori durante vários anos, mesmo não estando infectados.
Testes respiratórios: O teste respiratório com uréia contendo carbono marcado (¹⁴C, fracamente radioativo, ou ¹³C, isótopo estável, não radioativo) é considerado padrão de referência para controle da erradicação do H. pylori. A enzima urease, produzida em grande quantidade pela bactéria, é responsável pelo desdobramento da uréia marcada com ¹³C ou ¹⁴C, liberando CO2 que é rapidamente absorvido pela mucosa gástrica e exalado pelos pulmões. O CO2 marcado é detectado no ar expirado por espectrômetro de massa ou por equipamentos de menor custo, com os analisadores por infravermelho. O teste respiratório com ¹⁴C, por ser radioativo, não pode ser realizado em crianças e mulheres grávidas. Na rotina clínica, o teste com uréia ¹³C é o preferido, porque não tem contraindicação, sendo realizado em adultos e crianças acima de seis anos.
Testes de antígenos fecais: detectam a presença de antígenos do H. pylori nas fezes.
Exame Histológico: permite a identificação da bactéria e também avaliar o tipo e a intensidade da inflamação da mucosa gástrica, a presença ou não de atrofia, metaplasia ou displasia.
Teste da urease: Em virtude da facilidade, rapidez, baixo custo e eficiência, o teste da urease pode ser considerado o recurso mais importante dos endoscopistas para o diagnóstico da presença do H.pylori na prática diária. O fragmento da mucosa gástrica é colocado em frasco contendo uréia e vermelho fenol como indicador de pH. Graças à grande produção da enzima urease pela bactéria, a uréia é desdobrada em CO2 e amônia, aumentando o pH e mudando a cor da solução de amarela para avermelhada. O teste é positivo quando a mudança de cor aparece em até 24h.
Cultura: permite a correta identificação da bactéria. É caro, demorado e necessita de condições especiais para a sua realização.
Com a intenção de avaliar os custos dos exames para o diagnóstico do H. pylori, foram pesquisados dos vários testes, no início de 2010, na cidade de Campinas, São Paulo. A tabela a seguir aponta os resultados:
Exame | Custo (R$) |
Endoscopia digestiva alta + taxa sala + Biópsia | 225,55 |
Urease | 9,00 |
Histológico | 42,00 |
Cultura | 65,32 |
Teste Respiratório | 92,00 |
HpSA | 144,00 |
Sorológico | 23,00 |
Doenças Associadas ao H. pylori
É aceito pela maioria dos estudiosos que a bactéria guarda relação etiopatogênica com processos inflamatórios do estômago (gastrites aguda e crônica), úlcera gastroduodenal (em atividade, cicatrizada e passado comprovado da lesão) e com neoplasias malignas do estômago (adenocarcinoma gástrico distal e linfoma gástrico de baixo grau, tipo MALT).
As gastrites e a relação com essa bactéria foram esmiuçadas em um post anterior intitulado “Gastrite” (confira maiores detalhes e o tratamento do H. pylori). No caso das úlceras, indivíduos infectados pelo H. pylori têm risco dez vezes maior de desenvolver úlcera péptica, em relação aos não infectados; risco ainda mais alto quando a bactéria se coloniza no duodeno.
O linfoma primário do estomago (não Hodgkin), denominado linfoma associado ao tecido linfóide da mucosa gástrica (MALT), invariavelmente associado à infecção por Helicobacter pylori, tem prevalência muito baixa (sete casos por milhão de habitantes por ano), sendo o risco do aparecimento desse tumor seis vezes maior nos infectados do que nos não infectados por essa bactéria. De modo geral, observa-se que uma característica marcante desse linfoma é o fato de que 80% dos casos se curam com a erradicação terapêutica da infecção gástrica pelo patógeno.
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